Se a poesia é rara e não comove / nem move o pau de arara, como queria o já subversivo e falecido poeta Ferreira Gullar, a poesia de Jéssica Felizardo subverte a própria lógica subversiva gullariana e levanta bandeira com uma bela lírica afetiva, política e social e traz à vida um conteúdo capaz de comover e mover o pau de arara. Comove-nos pela solidão e rejeição do eu-lírico furioso que se revolta com o amor, porém pede desesperadamente por ele em tempos de cólera. Ou, ainda, no desejo salivado pelo sexo e até no asco mais manifesto pelo mesmo, de modo que sua transgressão está justamente no cruzamento de variadas temáticas. Assim, a poeta confunde o leitor, por vezes, nas muitas verdades que há na vida, sem os clichês e análises prontas sobre a poesia. Gênero esse explorado à exaustão pelos pedagogismos e didatismos de instituições com padrões de saberes questionáveis, mas que não nos cabe resvalar por tais brenhas... - Alexandre Morais.