Jovens aprendizes, não tenham medo de serem os cientistas "com produção escassa e irregular", "mal articulados" e fora do mainstream, considerados "subjetivos", "sem referenciais teóricos", "com bibliografias pouco atualizadas", "questões de pesquisa mal definidas", "objetivos difusos ou pretensiosos", "temas demasiadamente extensos". Já aos colegas mais veteranos peço que não se martirizem por não possuírem Lattes plenos de honrarias, títulos pomposos, prêmios e centenas de trabalhos feitos em série, abordando, com pequenas variações, sempre o mesmo tema. Vocês sofrerão por certo as agruras do isolamento e, ao invés de aplausos, receberão caretas porque criam arritmias fora da quadratura dos compassos e dissonâncias fora da escala tonal. Mas a ciência também pode ser tocada fora dos compassos metodológicos. Aliás, só uma ciência medíocre é que pode ser regulada por um método previsível e sistemático. Até mesmo os critérios popperianos de demarcação do que seja ciência e pseudociência são hoje seriamente questionáveis. A verdadeira ciência não se submete a algoritmos metodológicos, nem é uma simples conta de chegada às aplicações ou interesses momentâneos. Ela tem dimensões quase religiosas, e sua verdadeira fonte de inspiração muitas vezes, encontra-se acima até da pura lógica formal, pairando nas camadas mais elevadas da intuição e da criatividade artística. Em suma, é necessário crer-se em alguma coisa fora da quadratura do método, do imediatismo das aplicações pragmáticas, da neurose das publicações a qualquer preço, e principalmente estar voltado para o lado oposto das veleidades acadêmicas.