Nas mitologias mesopotâmicas, a presença da deusa Tiamat, dotada de capacidade ordenadora e criadora, sugere, no momento primordial da saída do caos para a ordem social, a presença do feminino como poder organizador da sociedade. Na continuidade do relato mítico, este período vital é lembrado como fecundo, alegre e pacífico. Com a vontade de espelhar a ruptura com esse momento cardinal da história, a mitologia suméria e babilônica passam a ver o feminino como um perigo. A fim de superar esse momento crítico da humanidade adolescente e fugir do calor materno, o relato mitológico volta-se para o masculino dominador e violento. A admiração da força e o desprezo do cuidado cristalizaram-se simbolicamente no culto ao deus Marduk. O culto à violência perdura até os nossos dias, mas a humanidade está reclamando o cuidado.