A mudança de paradigma da sociedade industrial da produção para a sociedade pós-industrial do consumo produziu um novo modo de convivência sustentado pela ética do direito ao gozo no lugar da ética do ascetismo e da acumulação. Face a essa exigência, os corpos se submetem, os sujeitos se alienam e novas formas de sofrimento irrompem de modo a afetar, não apenas os sujeitos, mas também a ordem social. Ondas de violência lado a lado a ondas de resistência invadem as ruas e exigem do Direito e da Psicanálise a tarefa ética de intervenção. Quando os mecanismos espontâneos de negociação na cidade, entre os homens, entre as raças, entre as diferenças econômicas falham, a Justiça é convocada. Quando o prazer é excessivo e produz sofrimento, destacando o mal-estar na civilização, a Psicanálise não cruza os braços. A questão, hoje, incide exatamente em sobre como intervir no sistema face ao excesso produzido pelo próprio sistema. Quando em sua mais íntima experiência de corpo e de satisfação, mas também em sua mais pública exposição, o sujeito se encontra vulnerável à ditadura do gozo, do consumo e da segregação, qual seria a boa medida para vivermos juntos? Esse livro se propõe à pesquisa, à análise reflexiva e à discussão de soluções que incluem, nos temas da responsabilização, da justiça restaurativa e da redução da maioridade penal, os efeitos da ação que o limite de cada campo, Direito e Psicanálise, impõe sobre o limite do outro, tendo como fundo o pacto societário. Sem a expectativa de que dessas bordas nasça um círculo racional e coeso, mas com a aposta de que, desse litoral, nasça um horizonte de convivência mais razoável entre os homens. Sejam bem-vindos!