Victor Frankenstein modelou sua criatura à maneira que se constrói um mosaico: de partes diferentes e de diversas origens, agregando numa estrutura gigantesca fragmentos até então isolados. O resultado é assustador, mas comovente: o monstro de aparência terrível torna-se também o indivíduo mais radicalmente isolado da sociedade dos homens, ao mesmo tempo em que passa pelo aprendizado das emoções e do autoconhecimento. Assim, os sentimentos nobres que predominavam em sua essência degeneram-se em vingança, estopim da tragédia que se abate sobre ele próprio e sobre aquele que o criou. É possível que essa mistura entre medo e compaixão, rejeição e encantamento que a criatura de Victor Frankenstein provoca em nós, leitores, seja uma das chaves do sucesso de Frankenstein. Amamos e odiamos o monstro. Até certo ponto, amamos odiá-lo. Depois, odiamos amá-lo, mas já não é possível que seja de outra forma. Mas o mosaico de Frankenstein é também, num outro plano, o mosaico de Mary Shelley.