O trabalho de Mariana Pérez tem qualidades evidentes - no que diz respeito à seleção de informação, à explicitação de objetivos, aos esclarecimentos metodológicos e à exposição rigorosa e clara. Situando-se no quadro teórico e epistemológico do Interacionismo sociodiscursivo, a autora perspectiva-o de forma simultaneamente ampla e concisa: por um lado, evocando contribuições fundadoras e determinantes, como as de Vygotski, de Habermas ou de Saussure; por outro, tomando em consideração abordagens mais recentes, no campo das ciências do trabalho e da ergonomia, através das quais estabiliza os procedimentos metodológicos que sustentam a pesquisa. Seriam estas razões já mais do que suficientes para recomendar a leitura do trabalho. Mas o percurso que a autora nos propõe é mais estimulante do que estes aspectos podem fazer crer. Os contributos teóricos mobilizados fundamentam a focalização escolhida - colocando no centro dos interesses e das preocupações a pessoa e o seu agir, a possibilidade de falar sobre esse mesmo agir e, falando, a capacidade de o (re)pensar criticamente. Trata-se, neste caso, de trabalho docente - multidimensional e atravessado pelos conflitos entre vozes diferenciadas, como exprime o discurso da professora entrevistada. Se a análise proposta evidencia esses mesmos aspetos, permite também salientar o papel de instâncias várias, com destaque para a formação inicial e a formação para a docência, na forma como a professora em causa (re)interpreta o seu agir. E permite mostrar, a concluir, que a interpretação do trabalho docente é construção - “entendida como desconstrução, reconstrução e coconstrução”. Estamos no cerne do programa de trabalho do interacionismo sociodiscursivo - lá onde o potenciar de um agir (mais) reflexivo cria rupturas e/ou desencadeia (etapas de) desenvolvimento (em interação). Não percamos então mais tempo. Com a palavra, Mariana Pérez. E com a palavra, também, cada um(a) de nós - na leitura (reflexiva) que aqui se inicia, ou na interpelação que dela nos fica.