A maternidade nos dias de hoje tornou-se uma tarefa altamente complexa, por conta das mudanças vertiginosas e contínuas nas expectativas e valores relativos à família, que resultam em uma inquietante fluidez de parâmetros para orientar a mulher. Essas transformações históricas são absorvidas de modo diferente de acordo com o cenário sociocultural em que a mulher vive com a sua prole, que as acomoda segundo os preceitos, as crenças e as convenções de sua comunidade. Desse modo, a maternidade varia tanto histórica como geograficamente. Visto que o relacionamento entre a mãe e a criança é fundamental para a constituição do ser humano, o amadurecimento emocional infantil se configuraria, portanto, de modo diferente de acordo com as variadas experiências da maternidade em distintos contextos socioculturais. Com base nessa perspectiva, Narrativas de mães brasileiras e francesas: um estudo transcultural é fruto de uma pesquisa de doutorado que buscou compreender, a partir da teoria psicanalítica winnicottiana, a experiência materna de mulheres francesas e brasileiras com bebês de até 11 meses de idade, no intuito de identificar o modo como a cultura perpassa essa vivência, discernindo suas similaridades e distinções. O livro contempla 16 relatos de mulheres brasileiras e francesas, em que elas expressam os seus sentimentos e pensamentos, por vezes paradoxais, referentes ao vínculo com o seu bebê, bem como os prazeres e frustrações da maternidade, permitindo entrever os elementos comuns e específicos conforme a sua cultura de origem. Desse modo, ele compartilha de uma concepção que considera a dimensão cultural do desenvolvimento emocional humano, e debate as capacidades da teoria psicanalítica winnicottiana para abarcar essa ótica.