Este ensaio de Fichte, publicado em 1795, constitui uma das primeiras tentativas de abordagem do problema da origem e da natureza da linguagem segundo o “espírito” do criticismo – uma tentativa hoje reconhecida como um ponto de inflexão na história dos estudos linguísticos, pois marca a transição do enfoque empirista, dominante na época do Iluminismo, ao enfoque especulativo idealista. O propósito de Fichte foi oferecer uma dedução da gramática mediante uma história “a priori” da linguagem. Embora não deixe de apresentar hipóteses empíricas sobre a constituição de uma “linguagem originária” nos primórdios da humanidade, a questão da origem da linguagem é deslocada do plano empírico. Para Fichte, não se trata de saber como a linguagem começou, e sim de derivar a sua origem da própria natureza da razão humana. Assim, Fichte não pergunta pelas circunstâncias concretas em que a linguagem pôde surgir. Tal pergunta jamais produziria resultados exaustivos, pois jamais daria conta da diversidade daquelas circunstâncias. Se a linguagem foi inventada pelo homem, “é preciso deduzir da natureza da razão humana a necessidade dessa invenção; é preciso demonstrar que e como a linguagem teve de ser inventada”.