Acolhido com entusiasmo pela crítica internacional, o romance The Girls (que a Editora Globo está lançando com o título Meninas Inseparáveis) conquistou o "Richard and Judy Award" como um dos três melhores títulos publicados na Inglaterra em 2006, além de ter ocupado por várias semanas a lista dos mais vendidos no Reino Unido. De lá para cá, o livro tem conquistado fãs incondicionais. Entre eles, admiradores de prestígio como a escritora chilena Isabel Allende, que classificou a obra como uma "história extraordinária", por sua mescla de tragédia e comédia temperada com ingredientes como amor, vínculo espiritual, lealdade e humanismo. A escritora e roteirista canadense Lori Lansen - que estreou na literatura em 2002 com o aclamado Rush Home Road, sem tradução no Brasil - conta que a inspiração para o romance surgiu num estalo. Certa noite, ela e seu filho estavam sentados à mesa, lado a lado. O garotinho aproximou-se, colou a face no rosto da mãe e disse: "Às vezes, eu queria que a gente ficasse grudado desse jeito". Foi a luz que deu origem à trama de Meninas Inseparáveis. No livro, a autora lança um olhar cheio de ternura sobre duas gêmeas muito especiais: Rose e Ruby, irmãs siamesas craniópagas (unidas pela cabeça), que - aos 29 anos e prestes a quebrar o recorde mundial de longevidade nessa condição peculiar - decidem escrever suas memórias. Narrado ora por Rose, ora por Ruby, o livro mostra como as mesmas experiências de vida podem produzir interpretações absolutamente distintas, conforme a perspectiva do observador. Com delicadeza e poesia, Lori Lansen passa ao largo do clichê maniqueísta dos gêmeos de comportamentos opostos. Suas protagonistas se revelam personagens ricos, contraditórios, repletos de nuances e - como todos nós - muitas vezes são o contrário daquilo que gostariam de aparentar. Ao longo da trama, a candidata a escritora Rose se revela bem menos consciente e madura do que sua auto-imagem sugere, ao mesmo tempo em que a supostamente frívola Ruby se assume como mulher assertiva, com aguda visão da realidade. À medida que a história avança, a autora desmonta preconceitos e humaniza o "diferente", levando o leitor à identificação com o universo das gêmeas e seus sentimentos íntimos - os quais, logo descobrimos, são muito próximos de nossos próprios pensamentos e emoções. À beira de completar o 30º aniversário, Rose e Ruby fazem seu acerto de contas com toda uma existência privada de palavras como solidão ou autonomia. Como saldo, contudo, não restam frustração ou mágoa - mas apenas o desejo de continuar reafirmando suas individualidades, sem renunciar ao cuidado de uma com a outra. Um cuidado tamanho que pode ser mais bem definido como amor incondicional.