Este livro que o leitor tem em suas mãos representa o coroamento de uma série de discussões, polêmicas e produções que se estendem pelo menos desde os anos 1960, mas que ganhou um contorno mais definido a partir do final do século XX: trata-se de um balanço do que significou o surgimento das tecnologias digitais nos conceitos de cultura, arte, filosofia e modos de vida. O autor, Cesar Baio, atualiza as discussões anteriores colocadas por autores como Vilém Flusser, Edmond Couchot, Peter Weibel, Júlio Plaza, Lúcia Santaella e tantos outros que as formularam num período imediatamente anterior, sobre como tudo se transforma quando se passa para uma existência digital, não apenas nas imagens, sons e textos, mas também na condução do pensamento, dos novos comportamentos e modos de produção e consumo, da vida contemporânea, enfim. Ele analisa também uma seleção de novos criadores, nos mais diversos campos das artes, que souberam tirar proveito não apenas das novas tecnologias, mas também das novas formas de sociabilidade e de economia política que se formaram ao redor delas. A ideia é pensar sobre o que podemos hoje ainda dizer mais sobre esse fenômeno e também captar as mudanças que aconteceram nesse universo depois das análises dos primeiros cientistas e artistas. Mas Baio não fica apenas na citação de autores e obras. Ele também interfere na discussão com suas ideias próprias e arrisca suas próprias opiniões sobre o que está acontecendo exatamente agora. É um pensador no legítimo sentido do termo, não apenas um repetidor de ideias alheias. E, além de pensador de peso, ele é também artista, o que explica a facilidade com que ele transita no universo das poéticas contemporâneas. Enfim, trata-se de um livro que o leitor lerá com prazer (porque é literariamente bem escrito), mas no qual poderá entrar em contato com o pensamento mais avançado de hoje. Arlindo Machado