Os traços identitários da cultura ribeirinha estão ligados à transmissão oral de saberes e vivências, repassados por gerações anteriores, e refletem uma relação de harmonia entre o homem e o meio ambiente. Qualquer alteração no espaço vivido desses sujeitos traz um desajustamento em série, abrangendo desde as questões mais básicas (como as formas tradicionais de subsistência do grupo, ligadas ao equilíbrio entre as necessidades e os meios disponíveis pela natureza), aos sistemas de representação simbólica (ligados aos sentidos, à percepção, à forma como o ribeirinho instaura a sua subjetividade). Foram essas algumas questões levantadas, nesta pesquisa. Os ribeirinhos foram ouvidos em momentos e espaços distintos. Entre agosto e setembro de 2008, pôde-se acompanhar os últimos momentos dos moradores, na comunidade de São Domingos, antes do remanejamento. Sete anos depois, entre outubro e novembro de 2015, realizou-se a segunda etapa de entrevistas com os mesmos moradores, em suas novas localidades, o que permitiu a este pesquisador levar em consideração a trajetória dos sujeitos pesquisados e os acontecimentos que permearam os contextos de produção dos discursos analisados. Espera-se que esse registro sirva como relatos de história e memória desse povo que continua sofrendo, Brasil afora, as perdas de território em nome de um suposto progresso do qual eles, os sujeitos da história, jamais usufruirão.