Virou um clichê dizer que "a obra de Fulano é inclassificável", mas no caso do escritor argentino Juan Rodolfo Wilcock (1919-1978) esse rótulo parece bem acertado. Wilcock viveu entre Argentina e Itália, foi tradutor, crítico literário, ghost writer, e fez uma ponta em um filme de Pasolini. Os títulos de alguns de seus livros denunciam sua peculiaridade, e a fibra jocosa com a qual operou na literatura e na vida: Persecución de las musas menores, Los dos indios alegres, La boda de Hitler y María Antonieta en el infierno. Seu livro mais conhecido, A sinagoga dos iconoclastas, é um convite à invenção por meio de uma coleção de Magister Vitae de inventores. Neste ensaio, Kelvin Falcão Klein visita a Lubriano onde Wilcock viveu em seus últimos anos, e palmilha arquivos em busca de "fatos inquietantes" em torno de um autor que encarnou, discreta e marginalmente, a proposta artística e vital de Marcel Duchamp.