Quem conhece de perto a vida universitária, sabe como é difícil reunir um punhado de pesquisadores expressivos, de especialidades diversas, em torno de um projeto acadêmico que implique, além das atividades inerentes à pesquisa, encontros semanais para a leitura e discussão cerrada das obras de referência de tal projeto. Os organizadores desse livro conseguiram essa proeza. Lograram furar o bloqueio da inércia e do conformismo acadêmicos e criaram o atuante grupo de estudos e pesquisa Teoria Crítica e Educação implantado tanto na UFSCar como na Unimep. Não bastasse isso que já é altamente significativo, dado o individualismo que grassa na universidade, seus membros, que são também educadores, não descuidaram da formação de jovens pesquisadores, conduzindo os alunos na leitura introdutória das obras dos teóricos da chamada Escola de Frankfurt. Eles elegeram outro fato altamente relevante estudar sistemática e aprofundadamente as obras de teóricos da envergadura de W. Benjamin, Th. Adorno, M. Horkheimer e H. Marcuse, muitos dos quais já foram trazidas para o português, é notório. Essas obras exerceram entre nós exercem ainda forte influência no trabalho intelectual de inúmeros pesquisadores dos diversos segmentos das ciências humanas, das letras e das artes. Fato que, com certeza, comprova o formidável vigor reflexivo delas. Elas despertam amplo interesse porque seus autores souberam tratar como matéria própria as questões e aspectos mais vitais do século XX: refletiram de modo decisivo sobre o significado do impacto da técnica moderna sobre a produção cultural, estudaram pioneiramente o aparecimento da indústria cultural e a gênese da administração total da sociedade, discutiram as conseqüências do declínio da experiência e a questão do futuro da cultura, além do da própria possibilidade do pensamento crítico. O presente livro não apresenta, portanto, poucos méritos. Ele resulta das atividades desse grupo de estudos e pesquisa, que culminaram com a realização do simpósio O ético, o estético, Adorno, na Unimep de Piracicaba, o qual reuniu expressivo número de estudiosos de todo o país ligados, de um modo ou de outro, aos frankfurtianos. Entre esses, cabe destacar a participação de Rodrigo Duarte e de Jeanne Marie Gagnebin, além dos organizadores desse livro – Bruno Pucci, Antônio A. Soares Zuin e Newton Ramos-de-Oliveira. Entretanto, o maior mérito dessa obra talvez resida no fato de que em diversos ensaios seus autores não se contentaram meramente em comentar de forma crítica as concepções desses teóricos alemães, mas em elaborar, inspirados por tais teorias, análises originais e instigantes sobre muitos dos novos aspectos que emanam de nossa nova conjuntura histórica ou da situação particular brasileira. Por assim dizer, esses autores radicalizaram e atualizaram com espantosa argúcia as perspectivas frankfurtianas, contribuindo assim para o estabelecimento de um tipo de reflexão crítica entre nós. Renato Franco* (*) Cursou filosofia na FFLCH-USP, foi jornalista em São Paulo. Mestre em Teoria Literária pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp e doutor em Teoria Literária pela Unesp-Araraquara. É professor da Unesp-Araraquara desde 1985, autor do livro Itinerário político do romance pós-64: A festa (Ed. Unesp, 1998) e de ensaios publicados em revistas especializadas sobre a produção cultural brasileira dos anos 70 e sobre os autores da Escola de Frankfurt. *** Áreas de interesse: filosofia, estética, pedagogia, comunicação, literatura e sociologia. Co-edição: Ed. Unimep, Apoio: Fapesp