Está faltando em nosso meio um material de fácil acesso que não só aprofunde com qualidade e amplidão as questões candentes da psicopatologia, da psiquiatria e da saúde mental, como também apresente os autores contemporâneos estrangeiros que estão produzindo nesses campos. A prática psiquiátrica tem se tornado muitas vezes superficial e mera repetição técnica, sem uma reflexão a respeito do que se faz. Isso em um tempo em que a assistência psiquiátrica sofre uma transformação incomensurável é extremamente preocupante, porque corremos o risco de criar inúmeros serviços territoriais para assistir aos pacientes psiquiátricos mais graves e não sabermos o que fazer, transformando-os em meros serviços de assistência social ou ortopedia do mental. Chamo a atenção, nesse sentido, para os quatro artigos da primeira parte, de Serpa Jr., Leal, Goldstein e Rocha e Tenório. Em relação à segunda parte, o artigo de Leibing apresenta uma discussão também fundamental para os tempos que correm, já que traz à tona a construção do conceito de demência de Alzheimer, bem como suas implicações históricas, sociais e culturais; Scheinkman retoma a importância crucial do conceito de reação exógena para a organização e a construção do campo da psiquiatria e da psicopatologia, e ainda introduz uma importantíssima discussão a respeito do Delirium, entidade letal e completamente subdiagnosticada em nossos hospitais gerais. Por fim, a terceira parte introduz assuntos contemporâneos e dialoga com campos como o trabalho, a solidão e a pesquisa, demonstrando o quanto a psicopatologia permanece presente como um campo de estudo fundamental para os tempos atuais.