Dos tempos de Chacrinha na televisão brasileira, com sua irreverência transformadora, à eclosão do indivíduo ordinário nas telas da tevê, performando sua autenticidade, muita coisa mudou no cenário televisivo. O telejornalismo se rende à presença do popular e da lógica do entretenimento; as telenovelas se afirmam como produções autorais; a recepção e o diálogo com as formas televisivas acontecem de modo cada vez mais transmidiático. Em Portugal, a preocupação com a televisão pública e com as funções do audiovisual se mescla com a atenção ao segmento infanto-juvenil; a hiperfragmentação de canais, possibilitada pela tecnologia digital, se faz acompanhar de uma preocupação ético-política pela alternância de vozes. Eis o cenário que motivou as reflexões contidas nesta coletânea. João Freire Filho e Gabriela Borges promovem uma interlocução profícua entre pesquisadores brasileiros e portugueses em torno de um veículo que, a despeito das transformações no panorama técnico-midiático, permanece como referência central em nossas sociedades - porque fiel à sua natureza primeira: a profunda inserção na vida cotidiana.