A terra moçambicana é uma terra de imbondeiros gigantes, de troncos torcidos, a árvore mais horrorosamente bela para quem olha o horizonte torto à sombra da sua ausência de folhas - como o faz Nelson Saúte neste "Rio dos Bons Sinais". Este é um livro de ausências. Sem grandes gestos, grandes batalhas, grandes epopéias, sem grandiloqüências ou arroubos filosóficos. As grandes aventuras estão no quintal da nossa casa, raramente nos horizontes exóticos e são os nossos olhos gulosos buscando o infinito que nos levam para o vazio dos gestos heróicos. Os personagens soltos deste árido rio, ainda assim de bons sinais, caminham no dia-a-dia olhando para os próprios pés, contados em fragmentos de um cotidiano que nos chega amarelado, quem sabe pelo sol, pelo pó, talvez mais pelo tempo vivido e a viver. Personagens simples (não confundir com humildade!) amarrados entre si pela ancestralidade, pela memória, por um futuro turvo, trazidos até nós por palavras sem pressa, coladas ao corpo, mais bem à sua sombra (ou à sua ausência), como na terra dos homens sem sombra. Fato e metáfora, metáfora e fato, dúbias na anterioridade como se deve no campo do imaginário; claras, como o olhar de Saúte sobre a paisagem que narra (e nisso estão os homens), com palavras que se entrechocam, carambolam, signos de culturas distantes, historicamente enclausuradas na mesma vivência. E, obsessiva - enterro após enterro, e mais um e ainda outro -, constante, vagarosa, quase preguiçosa, sem fazer espetáculo de si mesma, a morte. Como fato da vida, pronta, diria amiga. Com quem, de viés, se dialoga e nos ajuda a compreender o que somos. Não cabe, nestas curtas linhas, falar da emoção de um leitor suspeito. Reminiscências, cheiros, deslumbramentos esquecidos de minha infância, esmagados por distâncias? Um mundo, dentro e fora de mim, perdido no meu distraimento? Mais. "Rio dos Bons Sinais" é o encontro com Eufrigino dos Ídolos, o homem do luto perpétuo, vovó Mafaduco, a menina dos Prazos, viúva imaculada, e outras gentes, de outras terras, outra maneira de juntar as mesmas palavras, outro mar. Mas logo alguém da família - por uma triste história de amor, quem sabe um simples silêncio. Ou por um insólito guarda-chuva amarelo. Depois de O homem que não podia olhar para trás (coleção Mama África), voltada para o público infanto-juvenil, o moçambicano Nelson Saúte apresenta agora uma literatura um tanto singular, onde realidade e ficção caminham lado a lado. Em "Rio dos Bons Sinais", que integra a coleção Ponta de Lança, Nelson Saúte apresenta a relação com os mais velhos, a morte sob diversos ângulos, o que também revela as particularidades da cultura africana. No cenário da morte e do luto, Nelson revê os conceitos, a pobreza, o amor, a amizade, recorda a infância e mostra que a morte é um fato da vida e que pode nos ajudar a compreender o que somos. A literatura do período do realismo fantástico de García Márquez, citado em um dos contos da obra, é, para o autor, uma literatura condizente à realidade africana, tão repleta de situações absurdas e surpreentes em seu cotidiano.Depois de O homem que não podia olhar para trás (coleção Mama África), voltada para o público infanto-juvenil, o moçambicano Nelson Saúte apresenta agora uma literatura um tanto singular, onde realidade e ficção caminham lado a lado. Em "Rio dos Bons Sinais", que integra a coleção Ponta de Lança, Nelson Saúte apresenta a relação com os mais velhos, a morte sob diversos ângulos, o que também revela as particularidades da cultura africana. No cenário da morte e do luto, Nelson revê os conceitos, a pobreza, o amor, a amizade, recorda a infância e mostra que a morte é um fato da vida e que pode nos ajudar a compreender o que somos. A literatura do período do realismo fantástico de García Márquez, citado em um dos contos da obra, é, para o autor, uma literatura condizente à realidade africana, tão repleta de situações absurdas e surpreentes em seu cotidiano.