Sem essa de “volta por cima”. Quem ainda não foi apresentado ao fino humor literário de Airton Paschoa corre o risco de se enganar. Mas atenção: isto que conduz o leitor à doce impressão de estar diante de um autor blasé, ou no mínimo conformista, logo há de revelar sua face ácida: nos poemas em prosa deste Levante, pedir paz no meio de um bate-boca pode ser a gota d’agua. Assim como a evocação de uma doce cantiga de roda pode tirar o sono do leitor que não dorme de máscara.Não me atrevo a resumir o engenho literário do autor em uma simples orelha. Observo apenas que a escrita Airton, embora tome uma via narrativa muito diferente, faz jus à secura de um de nossos melhores romancistas, Graciliano Ramos. É que nosso autor também economiza adjetivos, advérbios e quaisquer outros penduricalhos que pudessem reforçar a força de suas frases secas.A proposta destes brevíssimos contos, ou crônicas, que já foi bem-sucedida no anterior Poemitos, não é de faceirice, nem de leveza. Airton não usa trabuco, mas é bom de navalha. Já perto do final, o artista finge que se justifica com o leitor: “Pra quem já perdeu a cabeça, já perdeu os olhos, e vem perdendo os cabelos, os dentes, que importa perder a mão?” Só que ele sabe, é evidente, que não perdeu mão nenhuma. Airton Paschoa pode perder o leitor desavisado que esperava outra coisa de um livro chamado Levante.