Principal movimento social da história recente do Brasil, o MST suscita fortes paixões e grandes controvérsias. Por essa razão, as avaliações sobre o seu significado na sociedade brasileira tendem a polarizar-se em extremos opostos. Nem a diabolização nem a apologia do MST contribuem, entretanto, para a correta compreensão de suas potencialidades e de suas insuficiências enquanto instrumento de luta dos trabalhadores que procuram vencer a situação de anomia que os impede de exercer um papel primordial na história do Brasil. A cuidadosa pesquisa da antropóloga Maria Cecília Manzoli Turatti foge desta armadilha. Sem esconder sua simpatia pela causa e pelo sofrimento dos Sem Terra, 'Os filhos da lona preta' mergulha no cotidiano de acampamentos com o objetivo de buscar a identidade dos acampados com o MST e com a luta pela reforma agrária. Sem pretensão de ser "dona da verdade" e de generalizar resultados obtidos a partir de uma investigação circunscrita a alguns acampamentos, a autora narra e interpreta o que viu. O MST organiza os desvalidos da Terra. Os acampamentos são feitos por homens e mulheres de carne e osso. Em condições de extrema pobreza, as grandezas e fraquezas da condição humana adquirem características próprias. A difícil sociabilidade nos acampamentos e a relação verticalizada com a direção do MST dificultam a transformação de desvalidos da terra em sujeitos políticos. Seus resultados merecem a atenção de todos que são solidários com a luta dos Sem Terra.