Existe literatura feminina? Essa pergunta nos é feita sempre a nós, poetas-mulheres, e de certa forma ela nos persegue. Ainda que gênero seja uma invenção, a divisão sexual do trabalho e os papeis sociais impostos às pessoas que se autoidentificam como mulheres* é muito real e esses fatores influenciam nossa escrita, óbvio, porque influencia a nossa vida. Assim sendo, é claro que existe uma literatura feminina, por mais raiva que eu sinta em aceitar. Só que esse aspecto, que por séculos foi limitação, vira elemento emancipador, a partir do momento em que nos acotovelamos para dar a nossa versão dos fatos: se é nesse mundo, e não em outro, que vivemos, e se as coisas são assim, e se há coisas que só um corpo de mulher sabe, então é disso, meu amor, desse corpo nesse mundo, de que falaremos. Nesse sentido, a poesia de Maria Isabel Iorio vem como um coquetel molotov atirado por alguém que está sozinho, mas sozinho está no meio da multidão, [...]