A ecologia está em vias de se tornar uma cultura mundial. Poucas pessoas, entretanto, têm refletido sobre a sua emergência e trabalhado, no sentido filosófico, por ela. Serge Moscovici nos lembra que a natureza é também nossa obra e que nós temos uma responsabilidade crescente em relação a ela: a natureza é bela e histórica. Portanto, em cada época, em cada período da humanidade, nós constituímos um estado de natureza que nos leva a refletir: nós somos homens na natureza. Dessa forma o autor nos apresenta "a questão natural" de uma forma contundente e profunda. Aceitando que originalmente a ecologia é um movimento mais heterodoxo do que herético e que a ecologia é uma forma de contracultura - sustentada em sua própria base pelo projeto que a suporta - , Serge Moscovici insiste em que a ecologia não se baseia numa visão passadista do mundo, e sim, pelo contrário, é a expressão da própria vanguarda da modernidade. Partidário de um naturalismo ativo, ele nos convida a uma ampliação da consciência ecológica e política, tendo como perspectiva o pensamento de que a ecologia - operando uma revolução na ciência e nas consciências - se firmará apenas se vier a se tornar um verdadeiro fenômeno cultural. Natureza - Para pensar a ecologia também poderia ter como título Natureza - Para reencantar o mundo. A idéia de reencantamento do mundo pode ser recuperada através dos temas e percursos que Moscovici apresenta neste livro, num percurso de uma autêntica ecologia política em suas reflexões filosóficas e existenciais, próprias do que nomeia como "naturalismo subversivo". Pensar a natureza sob a perspectiva de Serge Moscovici "nos leva a reconsiderar a fragilidade da presença humana em harmonia com a natureza", como nos indica Tania Maciel, em seu prefácio à edição brasileira. O caminho percorrido por Moscovici no "movimento da ecologia política, do qual foi um dos pioneiros, demonstra a precocidade da sua inquietação com o esgotamento dos recursos naturais que ameaça, além das sociedades modernas, a própria sobrevida do homem." Aqui vamos encontrar não só a defesa apaixonada do planeta como a Terra da Humanidade, mas os elementos de uma análise brilhante sobre a Natureza que vemos em suas obras Essai sur l'histoire humaine de la nature ou La Société contre nature, assim sintetizados: "Nós somos predestinados a este lar, do qual depende nossa existência e onde o que é vivo se multiplica quase ao infinito. É por essa razão que a história humana da natureza é também em grande parte uma história da Terra. Todos os estados dessa história se inscrevem nela, com as criações materiais que ela proporciona. Ela é o nosso habitat familiar. O princípio da realidade em ecologia é em último lugar o princípio da Terra, ameaçada por uma enormidade de fardos e de agressões crônicas."