O projeto nacional exposto na Doutrina da Escola Superior de Guerra, que moldou a face do regime militar implantado no Brasil, era embasado por um universo de valores ligados a uma linhagem cristã extremamente conservadora, que tinha na família, na religião, na moral e bons costumes, na pátria e na propriedade, os pilares da ordem social e que circulavam em diferentes segmentos da sociedade. O Programa Flávio Cavalcanti era plasmado pelos mesmos valores exercendo importante papel na consolidação deste universo e em sua circulação. O apresentador tornou-se um canal privilegiado na consecução do projeto delineado para a nação, através de seu programa, que alcançou altos índices de audiência na década de 1970, dirigido à célula familiar supostamente unida em torno da TV. Para os idealizadores da Doutrina a TV é vista como um dos elementos fundamentais na consolidação do regime na medida em que atingia um enorme contingente da população, mesmo que em lugares distantes, divulgando uma mensagem padronizada e evitando que inconformismos fossem gerados; em outras palavras, era fundamental para a efetivação do binômio, pilar da Doutrina: segurança e desenvolvimento. Dessa forma, esta parceria informal era vista como altamente proveitosa e semanalmente o Programa Flávio Cavalcanti adentrava os lares brasileiros com suas mensagens ufanistas...Como diz Teixeira Coelho - orientador do trabalho - na orelha do livro: "Nenhuma ditadura permanece firme por 20 anos, como aconteceu no Brasil, a partir de 1964, se seus princípios não forem de algum modo compartilhados ou pelo menos aceitos pela maior parte da população. Pretender o contrário é dar prova de um irrealismo cuja conseqüência maior é criar condições para que o fenômeno se repita."