A estreia de Pedro Torreão na poesia traz em sua maneira-de-fazer dois movimentos aparentemente contraditórios: temos um poeta extremamente sucinto, que trabalha de modo maduro o corte elíptico do verso, ofício de xilógrafo que entalha imagem e ritmo em papel; e uma poesia que parece ensaiar o tempo inteiro uma ruptura dessa contenção para se expandir em jorro, dança, quebra do cálculo que a constitui. A economia e o dinamismo em versos como Céu que cai/ do teu passado/derruba teto/caindo gesso/ em meu/café exemplificam essa dupla operação de retenção-expansão que permeia o livro. Trabalhando com uma tradição lírica que privilegia a memória, o amor e a vida sensorial, o poeta não se deixa seduzir pelos caminhos já trilhados (e exaustos) de certa poética brasileira, encontrando um meio-termo entre o artesanato pessoal de Bandeira e o rigor construtivo do primeiro Gullar, apontando tanto para a insuficiência da poesia na transposição da experiência, quanto para a riqueza que essa (...)