Um dia meu nome será associado à lembrança de algo tremendo... Eu não sou um homem, sou dinamite. Nietzsche, inimigo visceral da mediocridade e do conformismo, é contrário a toda atitude acomodatícia. Altaneiro e entusiasta, considera-se discípulo de um deus desconhecido. Mostra a jovialidade serena do grego. Remonta ao âmago da existência. Nietzsche, o enigmático, escapa à interpretação. É explosivo, discursivo, polêmico, aforístico. Em resumo, evita as imagens tradicionais do filósofo. Apresenta, e ao mesmo tempo transborda, os parâmetros existentes nesse limiar de século. É o pensador de todos e de ninguém. Atrai e repele. É conseqüente e distante, assimilável e impossível, pluralista e detalhado, cheio de contrastes e contradições. É a colisão entre o crepúsculo e a aurora, o decadente e o que começa. Almeja superar o foco antropocêntrico e a complacência experimentada pelo homem ao se tornar o ídolo de si próprio. Nietzsche pretende alcançar o verdadeiro Ideal e sua reconstrução a partir do niilismo, trata de traçar sempre novas metas, novas estratégias decorrentes de uma autêntica visão histórica. É uma questão de inverter dois universos mutantes: o mundo verdadeiro, bom, e o mundo das aparências, corrupto e inferior, que é mister substituir. Nietzsche procura vislumbrar e, até, superar a ilusão. Em A Genealogia da Moral, apresenta essa nova perspectiva que irrompe das aparências e projeta uma visão, oriunda dos antigos, a verdadeira utopia: um mundo melhor, que transmuda e transcende o vir-a-ser (mal, sofrimento e contradição), o futuro mundo da sensibilidade, situado além do bem e do mal, superação definitiva do ideal teórico-proposicional da existência. Nietzsche esconde-se por trás da sua própria aparente acessibilidade. Entender Nietzsche exige uma arte rara: a arte de ruminar. Com o linguajar comum da filosofia dita tradicional, surge um posicionamento inusitado desde Sócrates, o posicionamento da subversão: confrontar o estranho, o ambíguo, nos seus próprios termos. É nesse paradigma que Nietzsche, o insinuante, o insídioso, o complexo e o subversivo, se encontra. Ele utiliza a terminologia dos opostos — a oposição platônica entre o mundo verdadeiro e o mundo aparente — para abolir, aniquilar e erradicar tais distinções. De um tal empreendimento, resulta uma inevitável ambigüidade que pesa nos termos e no desenvolvimento que Nietzsche utiliza: verdadeiro, falso, bem e mal. Ele adentra em alguns conceitos — tais como vontade, eu, ‘homem — e os faz estourar em desafio ao significado tradicional. Pretende arrebentar a embalagem das falsas identidades. Desvincula a linguagem de tal maneira que ela deixa de ser veículo da falsa comunicação. Também enaltece a descrença mediante um processo que o leva a derrubar todo conformismo. Irônico, utiliza a paródia. Preço: R$ 65.00