Estrear em livro, e de poesia, não é fácil. Precisa ter coragem, precisa ter certeza no meio de muitas incertezas, porque, como diz a própria Carolina Pazos, fazer da "palavra edifício" é difícil e "leva tempo". Mas coragem não falta a Carolina, coragem e leveza ela tem de sobra. E é essa coragem e leveza, dotadas de uma franqueza ao ver o mundo, que a faz estrear agora em livro seus poemas: "Sei que muito tenho a fazer/ mas já clama em mim a arte de escrever/ e não tem obrigação que valha um verso". Sua poesia é essencialmente urbana, e é no meio da cidade e sua geografia de concreto, que Carolina descreve os traços da sua Arquitetura, onde encontra o humano por trás das paredes e janelas, e onde se confronta com o amor, o tempo, o acaso existencial e o ocaso da vida, que segue ainda nova, mas com vistas a uma maturidade que já vai em curso, como em sua definição do amor: "Se reza por alguém/ mesmo sem acreditar em Deus". Se isto já não é suficiente para uma estreia, sei não o que mais é. Carolina Pazos apresenta-nos sua Arquitetura poética com uma paixão e simplicidade que, em certos versos, nos faz lembrar a rara sensibilidade de uma Emily Dickinson ou o ardor sensual de uma Louise Labé, e se insere no que de mais surpreendente se tem publicado na poesia feminina carioca. É uma estreia mais que bem- vinda: "Te dou meu acalanto/ e um amor feito de aço/ Já é passada a hora de embalar-te nos meus braços/ pois não és mais tão jovem quanto querem teus carrascos/ Fragmentado teu corpo/ a alma una ainda é sentida/ que nas veredas do futuro/ não te vejas dividida".