o mundo é dos aventureiros desde os tempos dos fenícios, mestres da navegação, o homem caminha sobre as águas. os vikings, os chineses, os gregos, os portugueses mais tarde, se aventuraram nos mares, enfrentando a crença da época, de que as águas eram habitadas por monstros, de que o mundo era chato como uma panqueca e acabava em uma imensa cachoeira onde despencariam os navios que arrostavam os deuses. no mundo contemporâneo, a grande figura do aventureiro marítimo é amyr klink, que eu tive a honra de entrevistar, nos meus tempos de repórter especial da revista manchete, logo depois de sua chegada a salvador, vindo de cem dias de travessia a remo, desde dakar, no senegal. amyr klink desafiou os mares. martinês rocha de souza não fez tanto, mas desafiou os seus próprios limites o que dá quase no mesmo. aliás, não podemos dizer que martinês é um herói, no sentido clássico da palavra. não lutou batalhas, não chefiou exércitos, não criou um sistema político. viveu a vida, com toda a intensidade, isso sim. o que faz dele um homem de coragem, um determinado que resistiu muitas vezes à vontade de desistir, quando seguidamente acossado pelo preconceito, pelo desprezo e pela descrença de pessoas próximas. superou invejas com a filosofia cristã de perdoar e de dar a outra face, quando podia praticar a vingança. encontrei martinês quase por acaso. ele procurou a união brasileira de escritores, para pedir que fosse indicado um escritor que pudesse corrigir seus textos e opinar sobre a maneira como a narrativa estava sendo conduzida. interessei-me pessoalmente pelo trabalho, porque vi ali um jovem entusiasmado pela vida, com uma história pronta, apenas sem instrumentos de como organizar as ideias e apresentá-las corretamente. reescrevi alguns pontos, mas não interferi. a forma de narrar é do autor e a sua maneira de ver o mundo também. ele já havia pedido ajuda, antes, a amigos. mas entendeu, e essa foi uma qualidade sua, que o relato precisava de mais imparcialida