(...) As notícias vêm recheadas de palavras, conceitos, eventos, números, acrónimos que não são do conhecimento comum e que, noutra altura, seriam ignorados e tidos como falta de sensibilidade dos redatores ante leitores, ouvintes ou espectadores que têm mais que fazer do que estudar notícias ou perder tempo a decifrar comentadores. Agora, porém, é diferente, uma vez que o que se noticia hoje pode transformar-se amanhã em perda de salário ou de pensão, em aumento do preço dos medicamentos ou dos transportes, em ter de tirar o filho das atividades extraescolares ou de cortar na alimentação. As notícias de hoje são o dia anterior de um quotidiano cada vez mais difícil, de uma vida familiar cada vez mais penosa, de horizontes e expectativas de vida cada vez mais incertos e até ameaçadores. As notícias são hoje a expressão da nossa impotência perante o futuro e, mesmo quando parecem tomar o nosso partido, suscitar a nossa revolta, apontar alternativas, fazem-no de uma maneira pouco convincente ou pouco clara (...).