Notas sobre o cinematógrafo é uma preciosa coletânea de frases que o cineasta francês Robert Bresson foi fazendo ao longo das décadas em que se dedicou à produção de filmes seminais como Pickpocket, Um condenado à morte escapou a grande testemunha. Bresson pensava a imagem como pintura e o som, como uma partitura musical de ruídos, sempre com o máximo de rigor, com o firme propósito de vislumbrar instantes de eternidade nas ações mais prosaicas do cotidiano. Cinema, para Bresson, era sinônimo de revelação: uma espécie de decalque de um "real" que se manifesta se velando, nos religando à manifestação divina da própria vida. Era com essa convicção que Bresson, católico jansenista, preparava cuidadosamente os seus filmes, criando "leis de ferro" para o próprio processo de criação. Notas sobre o cinematógrafo é todo pontuado por essa visão epifânica da arte cinematográfica e tornou-se uma bíblia das especificidades dessa linguagem misteriosa que é a chamada sétima arte. Bresson influenciou várias gerações de realizadores, de Jean-Luc Godart a Lars Von Trier. Muitos mandamentos do Dogma 95, criado pelo cineasta dinamarquês, foram extraídos de Notas sobre o cinematógrafo. Para Godard, que o homenageou em um de seus filmes mais recentes, elogio ao amor, "Bresson é o cinema francês, como Dostoievski é o romance russo, e Mozart a música alemã". "Construa seu filme sobre o branco, sobre o silêncio e sobre a imobilidade", é um dos ensinamentos de Bresson que podem ser ouvidos no filme de Godard. Cinema por subtração, sempre movido por um minimalismo desesperado em busca da essência dos sons e das imagens em movimento. A ação nos filmes de Bresson se desenrola com muita freqüência nas bordas do quadro ou fora dele, numa tentativa de fazer com que cada espectador confeccione a narrativa na própria mente, levando assim o paroxismo as possibilidades sugestivas da linguagem cinematográfica.