Cantor dos dilemas da vida nas grandes metrópoles provincianas, Pedro Gonzaga pertence a uma geração de escritores que trocaram a denúncia direta pelo cinismo direto, um cinismo que neste caso, no entanto, é capaz de enternecer, um cinismo quase romântico - se é que se pode utilizar essa categoria -, que revela o caráter fantasmagórico escondido na insólita segurança dos cotidianos banais das personagens deste livro, e que expõe, à luz do sol a pino, a solidão e a fragilidade que, no fundo, talvez definam a todos nós. Entre o drama e a farsa, a comédia e o absurdo, os contos de Dois Andares: Acima! se ordenam em uma arquitetura oculta e sutil. Neste croqui, erigido no espaço branco da folha, cada história é independente em sua aparência, mas guarda, a um só tempo, a possibilidade de se converter em linha, em traço de nanquim. Na imprecisão e na duplicidade semântica dos andares propostos no título, parece se tornar ainda mais desafiadora para o leitor a busca de resposta, de eco, à estranha interjeição (ou convocação) estabelecida pelo autor com o Acima! que segue os dois pontos.