Álvares de Azevedo deixou entre os seus contemporâneos a ideia de um gênio, cuja morte prematura, aos 20 anos de idade, impediu a plena realização de suas possibilidades. Quase um século depois, Mário de Andrade voltava a exaltar a genialidade do poeta, "não do gênio atingível através das paciências compridas, mas do gênio independente, por assim dizer espontâneo, capaz de criar uma obra formidável".A espontaneidade foi, sem dúvida, um dos traços marcantes do poeta paulista, que mesmo sem atingir a genialidade, deixou uma obra formidável, espécie de súmula das inquietações e desejos dos jovens românticos de 1850.Quais eram essas inquietações? Em primeiro lugar o amor, a aproximação entre os sexos, dificultada e até obstruída pela rígida moral patriarcal. Assim, o simples e humano ato de amar assumia, por vezes, um sentido de transgressão, muito presente na obra do nosso poeta, seja no plano social, seja no psicológico. Em vários de seus poemas, Azevedo idealiza a posse sexual em sonho como a realização suprema do amor.O amor estava sempre ligado ao mais desbragado sentimentalismo. Era uma das atitudes bonitas da época, frequentemente corroída por momentos de cinismo e amargura, quase sempre de inspiração livresca. Sentimental e um tanto ingênuo, Álvares de Azevedo intoxicou a sua literatura com os venenos sutis destilados das obras do amargo Byron, do melancólico Musset, do pessimista Leopardi.Ainda bem que tinha em si mesmo um contraveneno poderoso, o seu admirável senso de humor, que o levava a zombar até da morte, como no poema “O Poeta Moribundo”, desenvolvido "na craveira da mais franca piada", como observa Antonio Candido no prefácio. Álvares de Azevedo, 150 anos depois de sua morte, continua capaz de comover e encantar o leitor. O que mais pedir a um poeta?