Elisabeth Anscombe, em sua obra Modern Moral Philosophy, aponta para uma atitude tipicamente wittgensteiniana que corresponde a uma crítica e, ao mesmo tempo, uma rejeição às formas tradicionais de pensar a ética. A consequência mais radical desse procedimento rompe de maneira original a exigência de tornar-se um ser humano melhor, realizando uma atividade sobre si mesmo, com a finalidade de se autoconstituir enquanto sujeito ético. Partindo dessa convicção, esta obra explora a existência de um itinerário indicativo, não prescritivo que conduz para a autoconstituição do sujeito ético na filosofia de Wittgenstein, do qual o gênio resulta como figura central. A autoconstituição do sujeito ético se reveste de uma dupla perspectiva: no Tractatus, diz respeito a um afastamento temporal e espacial do mundo; nas Investigações, a uma aproximação do mundo, um retorno ao cotidiano, no qual a vida de todos os dias ocorre em sua forma mais profunda. Esse percurso revela que a identidade do gênio reside no interstício entre a vida e a obra de Wittgenstein. Na passagem de uma para outra obra é possível identificar a mudança de postura do filósofo, bem como o fato de que o rigor lógico cede lugar ao que há de mais comum e acessível aos homens. Ao término do trajeto, considerando a vida, as obras, as influências exercidas sobre Wittgenstein se revela a autoconstituição do sujeito ético na expressão de um dever do gênio.