Quando ele nasceu, Berlioz ainda estava vivo e seu país era uma província do Império Russo. E quando morreu, em 1957, a Finlândia passara por duas guerras mundiais e sobrevivera à invasão soviética, tornando-se um regime solidamente republicano. A saga desse país se reflete na música de Jean Sibelius, cujo nome e obra se confundiram com a própria identidade finlandesa, pela qual ele lutou desde cedo. Mas Jean Sibelius, mostra o jornalista e crítico Lauro Machado Coelho em 'O Cantor da Finlândia', não foi apenas o músico nacionalista que, para seus poemas sinfônicos, procurou inspiração nas narrativas mitológicas recolhidas na Kalevala, a coletânea de poemas populares reunida por Elias Lonrött. Ele foi também um dos maiores sinfonistas do século XX que, mantendo uma independência em relação às correntes de vanguarda com as quais conviveu, formou uma linguagem própria e inconfundível e, em suas sete sinfonias, renovou os esquemas do gênero. 'O Cantor da Finlândia' faz o retrato do homem dedicado à família, mas que sempre foi incorrigivelmente perdulário e viveu endividado, além de ter sérios problemas com o alcoolismo. E mostra como, ao lado disso, Sibelius foi um compositor de extrema exigência consigo mesmo, que praticamente não compôs mais depois de 1927, a data de Tapiola, seu último grande poema sinfônico. Essa intransigente auto-crítica foi a responsável por ele ter provavelmente destruído o manuscrito da Oitava Sinfonia, pela qual o mundo musical esperou vários anos.