No amplo e diversificado campo das cada vez mais complexas relações entre povos indígenas e agentes da sociedade abrangente, o desenvolvimento é tema de grande relevância. Em torno desse tema, o engajamento nos circuitos econômicos regionais, a apropriação de mecanismos de geração de renda e do consumo de bens e serviços, os impactos de grandes empreendimentos, o fortalecimento institucional, a construção de políticas públicas e a elaboração e execução de intervenções sociais sob a forma de projetos para ou pelos povos indígenas são aspectos cruciais. Atentos à relevância dos modos como tais projetos são elaborados, analisados, aprovados, examinados, encaminhados e cumpridos ou não, os organizadores desta publicação se empenharam, primeiro, em estimular e garantir espaço para essa discussão na IX ABANNE - Reunião de Antropólogos do Norte e Nordeste, realizada em Manaus, de 29 de agosto a 2 de setembro de 2005, e, depois, em disponibilizar os seus resultados. Nos debates ocorridos, destacaram- se sete pontos com desdobramentos tanto teóricos quanto práticos: as relações entre os povos indígenas e o Estado brasileiro; o conjunto de ofertas de apoio financeiro a esses povos; a participação indígena; o protagonismo e a apropriação sociocultural dos projetos indígenas; os mecanismos concretos de seleção e aprovação de tais projetos; sua economia, finalidades e mecanismos de gestão; e, por fim, como pensar a pesquisa sobre projetos indígenas. Em um plano mais geral, abordam-se aqui os projetos voltados para os povos indígenas e sua interface com políticas públicas na aplicação de recursos ou mesmo no que se refere à execução de ações. São decisivas, entre outras, reflexões sobre a construção e a execução de programas de apoio, a definição da regulamentação e das formas de trabalho desses programas, e a participação de diversos atores no processo. Já em dimensão local, ganham relevância análises etnográficas de projetos em comunidades indígenas executados por elas próprias, pelas organizações que as representam, por ONGs de apoio ou por órgãos oficiais, incluindo-se nesse campo as descrições, reflexões e interpretações realizadas pelas comunidades ou organizações indígenas, isto é, a rede de relações estabelecidas, as perspectivas de cada um dos atores e os processos socioculturais e políticos vividos durante e depois da vigência desses projetos.