"O estudo das prisões revelou ao autor, como a própria teoria social reforça, involuntariamente, os estigmas sociais que denuncia. Como se os estigmas fossem naturais. E nalguma medida o são. O espírito humano discrimina e classifica não apenas para conhecer, mas, também, para participar em jogos de identificação e exclusão do outro. O estudo científico, porém, deve aspirar a superar a natureza tal e qual nos é apresentada. E perspectivar outros modos de expressar a vida de um modo mais humano, isto é, reconhecendo a todas as pessoas os mesmos direitos: os direitos humanos. A trilogia Estados de Espírito e Poder, de que este volume é parte, apresenta o espírito do carcereiro - o Espírito de Proibir - o espírito do presidiário - o Espírito de Submissão - o espírito do delinquente - o Espírito Marginal - como estados de espírito que todos, uns mais que outros, adotamos para nós próprios em diferentes situações na vida, assim como esperamos que outros com quem nos cruzamos adotem também. A obra inaugura uma proposta epistemológica mais exigente do que a atual indefinição de atitudes e representações sociais, centrada no conceito de estados-de-espírito. Abandona a ideia de indivíduo e substitui-a pela ideia de pessoa instável à procura de qual a melhor disposição a mobilizar em cada situação social: qual é o estado-de-espírito mais adequado a cada circunstância? O elenco de estados-de-espírito socialmente construídos é, em geral, utilizável igualmente por todos, desde que tenham a vontade e o treino suficientes."