Somente com essa mistura de universos, Glauco já estaria posicionado na contramão da caretice que rodeia a dita forma fixa. Mas o autor paulista escancara que o soneto não é a camisinha da poesia e que o tema low escatologia, homossexualidade, fetiche etc. sempre serviu bem à literatura de todos os tempos e estirpes, demonstrando o engodo que pode ser a mera demonstração de ginástica formal. Dialogando com o que há de mais vivo na tradição, os sonetos investem contra o mau uso da forma, servindo como antídoto contra todo tipo de conservadorismo. Em Glauco respiram e conspiram Gregório de Mattos e Bocage para citar apenas dois de uma vasta linhagem de rebeldes. Por isso, uma das importâncias fundamentais é a possibilidade de se perguntar o quanto as formas poéticas são também políticas. Por trás de pergunta tão simples, pode-se chegar a respostas que envolvem a própria criação poética ou, mais especificamente, a sua liberdade de linguagem.