Eu ouço Ela cantarolar. Já ouvia antes d´Ela começar a caminhar. Ela era outra, ao mesmo tempo em que era ela mesma. A sua jornada, como de toda pessoa trans, não foi de si para o mundo, foi do cenário exterior para o seu próprio interior, descobrindo-se ao mesmo tempo em que se compunha. Atriz de sua peça, protagonista de sua vida. Canções de outrora abafadas pelo barulho da contemporaneidade. Maria Lucas escutou as vozes ancestrais e contou a Ela, afetando-se-lhe. A sagaz escritora confere a Ela uma capacidade ímpar de compreender o quanto de subalternizante pode haver em atos aparentemente gentis da cisnormatividade. Ela pergunta a quem a lê: quais são os limites da sua sororidade? Até que ponto não se resume a um gozo ante à dor alheia? O que significam casa e família? Por que o sofrimento afligido a esta corpa lhe importa menos do que a uma mulher cis? Por que você fala em amor mas a deseja apenas como objeto sexual? Estas não são questões exóticas, são universais [...]