A investigação de mestrado em questão que se apresenta em livro insere dentro da perspectiva da Nova História Cultural, tem como base a relação entre imaginário e representações culturais, focando em aspectos como a família, o cotidiano e a aproximação de um meio de comunicação (Última Hora) com o poder político varguista (1951-1954). É objetivo deste livro perceber os aspectos da honra e moralidade no Brasil, tendo como pano de fundo a historicidade da narrativa de Nelson Rodrigues e seu olhar jornalístico, no tocante ao quadro das relações amorosas nos anos dourados (1950-1964), retratadas em seus contos-crônicas, no universo do jornal. Algumas perguntas nos instigam e nos levam a propormos a investigação, que são: como estão apresentadas tais relações em seus contos-crônicas? Que discursos perpassavam a instituição familiar? Que imagens de feminino e de masculino são representadas em sua obra? Como o autor concebia o jornalismo e sua forma de escrita? Partimos da hipótese de que o escritor, revelando, por meio das representações sociais, o contexto urbano de sua época, captou, por meio de sua lente, as coisas miúdas do cotidiano, tais como as práticas urbanas relacionadas aos casos de adultério, que eram criticados pela forte moral sexual emanada dos discursos que perpassavam a família. O foco do livro é entender as implicações sociais da escrita de Nelson Rodrigues e sua imagem como jornalista da vida diária, além de compreender a ampla repercussão de seu universo textual. Sua popularidade advém da sensível genialidade incomparável por retratar fatos inerentes ao cotidiano e, assim, ganhou amplo destaque na sociedade de sua época, mas também vieram os rótulos como de escritor imoral. Intenta-se abordar um período rico na composição do seu universo jornalístico, tendo em vista a importância do autor como intelectual ligado às tensões sociais de sua época, e promover uma visão menos redutora de sua obra na contemporaneidade. A proposta consiste em adentrar o vasto e instigante campo do imaginário social produzido pela narrativa literária de Nelson Rodrigues e das representações sociais da vida cotidiana. Teremos como corpus documental principal a obra em prosa A vida como ela é... O homem fiel e outros contos, que foram selecionados e publicados pelo escritor e crítico Ruy Castro, e que, originalmente, foram publicados em sua Coluna diária A vida como ela é..., no Jornal Última Hora, de Samuel Wainer, durante os anos de 1951 a 1961.