Celebrada como uma das figuras centrais da crítica hispano-americana das últimas décadas, a argentina Sylvia Molloy (1938-2022) foi também uma escritora inquieta e original. Autora de dois romances, Molloy criou em seus últimos livros Desarticulações e Vária imaginação uma forma breve e singularíssima, capaz de pôr em curto-circuito os territórios do factual e do ficcional, da memória e da invenção. Em Vária imaginação, de 2003, os fragmentos rememorados vão aos poucos formando um vívido léxico familiar, um sintético romance de formação na Argentina dos anos de guerra e pós-guerra que dá a ver a parte do imaginário em toda constituição pessoal e coletiva. Com Desarticulações, de 2010, a escrita de Molloy aventura-se em território oposto, o de uma separação amorosa que se desdobra num lento e trágico divórcio entre o corpo e as ficções literárias, amorosas de uma vida vivida em comum. Nessa breve obra-prima (verdadeira versão às avessas do Funes, o memorioso de Borges), Molloy [...]