Este trabalho analisa usos do mundo antigo pela História e pela Arqueologia como forma de estabelecer compreensões no mundo contemporâneo. Propõe uma reflexão acerca do papel do passado nos jogos de estratégia e afirmações identitárias, à medida que percebe os estudos sobre a Antiguidade muito próximos de representções coletivas na contemporaneidade. Parte da premissa de que o saber sobre o passado, sua escrita e suas leituras são poderes e geram poderes. Do ponto de vista temático, trata da apropriação do passado gaulês, romano e galo-romano na França durante o Regime de Vichy (1940-1944). Mas trata, também, da inserção do objeto num contexto mais amplo, europeu, na medida em que analisa as instrumentalizações da Antiguidade pelo Nazismo e pelo Fascismo. Aproxima-se do objeto com uma análise das figurações da Gália e dos gauleses na historiografia francesa, principalmente a partir do século XIX. Trata do estatuto dos historiadores ao se relacionarem com os poderes do Estado, especificamente, no caso, de Jerôme Carcopino, notável romanista que foi ministro da educação sob Vichy. Por perceber na sociedade francesa atual uma presença muito marcante da Antiguidade como forma de legitimação de direitos advindos da origem, analisa, também, as formas de apropriação do mundo antigo pelas extremas direitas, aqui representadas pelo Front National e pelo grupo Terre et Peuple.