A poesia não é - mas deveria ser - semelhante ao desejo da paz universal. Imaginar a paz universal, segundo Umberto Eco, é como a aspiração à imortalidade, que "apesar de ser tão forte, não vemos a possibilidade de satisfazê-la. A paz, no plano local, em diferentes regiões do globo, seria igual ao gesto do médico que sara uma ferida, não uma promessa de imortalidade, mas, pelo menos, uma forma de adiar a morte". É sabido que o poeta surge pela sua especial intuição, axioma consagrado pela sabedoria popular. Filósofos renomados diziam o mesmo, tais como Platão. Esta faculdade de pressentir, captar e prever, não só a realidade imediata, mas também aquela realidade que escapa do mundo tangível, situa-se na periferia do profético. Mesmo assim, impossível denominá-la de "revelação divina".Pablo Neruda, o poeta chileno-universal, por exemplo, não tolerava que chamassem o poeta de "pequeno deus". Pode sim o criador de poesia possuir algo de sobrenatural, por eximir-se de explicações lógicas. É inerente nele uma carga de originalidade, uma visão de mundo mais que particular, acrescida de inquietude e rebeldia, muitas vezes contaminada de desolação e desespero.Ele, o poeta, capta, sente, com suas inquietações metafísicas. Somente ao final de tudo isto nasce-lhe a consciência, marcada por incertezas, contradições possivelmente angústias. Em meio a estas considerações iniciais, que bem podem ser atribuídas como avaliação das qualidades deste primeiro livro de Celi Luz, como primeiro mérito pode ser dito de O sol da palavra que é um livro moderno e vital.