"Conto: palavra polissêmica. Um conto pode ser o coloquial valor pecuniário. Eu conto uma seqüência numérica e o conto de quem conta aumentando ou ausentando pontos. Valor, quantidade e narrativas fazem o livro de João, ou os papéis de Carlos ou as histórias de João, melhor ainda, as estórias e os papéis de Augusto de Negreiros. Há que se reconhecer em cada uma das histórias aqui reunidas uma forte tendência da prosa moderna e contemporânea, já que é sempre nas formas breves que, com mais clareza, percebemos o hibridismo entre narrativa ficcional e a performance narrativa de um bom contador de histórias. Não haverá um leitor e uma leitora depois de ler suas narrativas, sintomaticamente equilibradas formalmente, que esquecerão as imagens narrativas, as cenas, os enredos, os personagens, as formas romanescas que transitam em cada página, em cada nome próprio, nos lugares que constroem o mapa e as tramas. Todas as narrativas revelam, na medida certa, a procura estética e literária de quem se preparou pessoal e academicamente para ser um homem de Letras. Cada leitor, cada leitora dará seu ritmo de leitura, usará seu marcador de página de uma forma prazerosa e terminará o livro querendo compartilhar, querendo presentear, querendo comentar as estórias definidas não só pelos artigos que as nominam (a tela branca, o sonhador, o sermão, as casas...), mas pelos humanos, demasiadamente humanos, que nelas habitam. (Profa. Dra. Tânia de Oliveira Ramos - Universidade Federal de Santa Catarina)..."