Em Literatura, ensino e formação em tempos de Teoria (com T maiúsculo), André Cechinel revela imensa clareza de que a literatura existe hoje, por via de regra, aos pedaços e sempre prestes a desaparecer. O autor, além disso, mostra total consciência de que esse despedaçamento foi produzido por e faz sistema com os circuitos do capital e a sucessão de dramas políticos e tensões socioeconômicas que marcaram o século XX e se prolongam pelo século XXI. Cechinel converge para a conclusão de que o cortejo de crises nos últimos 100 anos foi matando a ideia de progresso, até nos submeter a uma nova temporalidade, alheia à noção de futuro. Uma temporalidade decerto não apenas esteticamente deplorável, mas, a rigor, incompatível com as lentidões que a opacidade do literário solicita para ser interpretada e assimilada às nossas vidas. O autor bem sabe, de resto, que, embora não seja necessariamente eterno e inexpugnável, o conjunto atordoante de condições a que estamos hoje submetidos tem uma força opressiva e acachapante o suficiente para nos impedir de sonhar, mesmo no longo prazo, com um destino para a literatura que não seja o de uma existência parasitária, menor, residual. São esses restos literários que Cechinel recolhe, e é a partir deles que ele tenta pensar nos termos de uma posição próxima à que Nietzsche chamou de pessimismo de força o ensino da literatura. Fábio Lopes da Silva (UFSC)