Recordo-me das saudosas e inteligentes palavras de Eduardo GALEANO: “Para que sirve la utopía? Para eso sirve: para caminar”. Não tenho dúvida de quão certeira é a frase do escritor uruguaio. A utopia é aquilo que não pode ser realizado no presente, ela está no horizonte e serve de bússola para sermos norteados ao desejável. E assim é o conteúdo da presente obra: um estudo sobre a utopia da ressocialização ante as mazelas do sistema carcerário. Para tecer com precaução e exatidão os motivos da ressocialização ser uma utopia, este livro não é resultado de apenas uma vasta lista de referência bibliográfica nacional e internacional; essa pesquisa foi além, pautou-se em índices numerários, em entrevistas com operadores da malha carcerária (diretores de presídios, carcereiros, policiais, funcionários, psicólogos e médicos que atuam dentro dos presídios) e conversas com os verdadeiros moradores do cárcere. Somente assim tornou-se nítido o quão atroz, desumano e seletivo é o sistema carcerário e o quanto esquecidas são as políticas criminais. Estudar a execução penal é crer na ressocialização dos detentos e tornar-se cético quando se percebe que esse ideal é impossível diante da realidade sádica e cruel, que é a malha carcerária. Entretanto, não sejamos levianos em acreditar que apenas essa realidade mórbida seja o impasse para a ressocialização; outra mudança crucial seria na mentalidade daqueles que se encontram fora das celas.