Se há um domínio que desperte o interesse e, por vezes, as paixões, é, certamente, o do inato e do adquirido. Numa discussão, mesmo que familiar, o debate acerca deste tema pode suscitar argumentações mais ou menos encaloradas e, mesmo, antagonismos frequentemente irredutíveis. A causa destas atitudes está no facto de toda a gente sentir que, por detrás deste assunto, mesmo que não seja explícito, assomam outras questões que tocam o próprio modo de ver a vida, a sociedade, o modo de a organizar, a distribuição de diferentes tarefas no seio da divisão do trabalho e a aceitação ou rejeição das desigualdades. No fundo, o problema do inato e do adquirido cristaliza a escolha de valores que realizamos nas nossas sociedades: o seu jogo é, pois, profundamente político, visto tocar, no seu próprio fundamento, a maneira que cada um tem de pensar a existência social. JEAN-FRANÇOIS SKRZYPCZAK é professor na escola de Montbrison (Loire), além de autor de diversas obras. Trabalha, actualmente, nos temas da moral e das ciências da vida, assim como no do envelhecimento.