Como falar sobre esses contos tão surpreendentes? O que quer que se possa dizer, paira no ar uma certeza: estamos diante de narrativas em que as primeiras linhas já nos colocam em suspensão, atentos ao desenrolar da história, seguindo com mal disfarçada ansiedade esse fio que nos levará a uma revelação, por vezes, epifânica, mas sem alarde. O ponto de partida é quase sempre insólito, leva-nos a regiões distantes no tempo e no espaço, como os rios gelados do Canadá, a suave trajetória do Hindenburg rumo ao desaparecimento, a nau de Colombo, e até o espaço interestelar. Essas narrativas universais, colocadas em paisagens que falam aos leitores de todas as partes do mundo, poderiam ser, cada uma delas, bons argumentos de filmes a serem realizados. Se há um fio condutor, este poderia ser a viagem, o deslocamento do leitor do lugar confortável em que se encontra para uma paragem em que o insólito poderá surgir a qualquer instante, deixando-o com um sabor agridoce na garganta. (...