Em Vila Desterro, Rute Gusmão nos leva a um povoado imaginário cercado por terras fictícias e um rio margeante. Nessa história, as referências a obras e personalidades conhecidas ganham um caráter simbólico, transcendendo a homogeneidade da ambiência onde a trama se desenvolve. A autora habilmente expõe a complexidade das lutas de classe, contrastando valores urbanos e campesinos, falas do interior com a cidade, riqueza e pobreza, com destaque para a devastação das culturas e paisagens regionais, assim como a ameaça à existência de povos indígenas. Nas palavras de Ivan Proença, trata-se de romance documental esta segunda obra ficcional de Rute Gusmão. Mas não um documental em que prevaleça sequência de ocorridos, relatos historicistas e avalanche noticiosa. A intensidade ficcional se exerce em sua plenitude, com um somatório de conflitos tão verossímeis quão insolúveis. [...]