Me pergunto se ainda há poetas é o verso que encerra o primeiro poema de Construção, segundo livro da jovem e talentosa poeta Luana Claro. A pergunta, que não exige marcas gráficas (?) vai, tal qual a autora, direto ao ponto, evitando distrações ou adornos e estabelecendo um canal de diálogo com a tradição Benjaminiana, cujo imperativo, toda obra de arte pode e deve ser lida como um documento de barbárie, evoca o início de uma longa crise no seio do qual as artes e, em especial, a poesia, buscam esteio para resistir à entrada no que se convencionou chamar período do pós-guerra. O argumento basilar da discussão estética não surge na poesia de Luana apenas como mera reposição de um ideário crítico, mas, sobretudo, como atualização de uma discussão que nos obriga, a todo instante, ao presente, e cujo lúcido questionamento encobre, como todo verso bem trabalhado, uma questão ainda mais reveladora: em não havendo poetas, haverá poesia? [...]