Dirigido aos pesquisadores brasileiros e franceses, o padrão básico do livro provém do diálogo com os subalternos na cidade do Rio de Janeiro, “que não se subordinam ao estatuto do proletário”, à qual o autor dedica este volume, inspirando-se e sentindo a força criativa do direito enquanto fenômeno político “como arte do impossível” que pulsa na rua, ou, dependendo da intensidade, na violência popular. Na França, no calor do debate sobre as “banlieues”, nas revoltas que incendiaram o país durante três semanas, o estado de coisas permanece: exclusão social, preconceito relativo às origens, desemprego, falta de infraestrutura, violência policial, tendo como a gota d'água para um protesto emocional a morte de dois jovens em 2005. No Brasil a brutalidade estatal é mais latente: assassinatos dos subalternos, membros dos movimentos sociais, “cidadãos” excluídos, sofrendo com a atuação mortífera da polícia política e legitimada por um sistema de justiça fascista, sem contar a total exclusão dos direitos sociais. E em ambos os países, as pessoas simplesmente se contentam com o “retorno” a “normalidade”, reflexo de uma “violência calada” que mantém uma sociedade burguesa naturalizando-a e retirando a capacidade de dizer não ao sistema; a separação brutal dos trabalhadores e da sua produção, feita por leis sanguinárias, a ferro e fogo, uma violência escondida que não é mais contestada pelo proletário.