O Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX, visto da Baía de Guanabara, com seus contornos e exuberante floresta já fazia jus ao título de Cidade Maravilhosa. Oswaldo Brierly, um dos maiores pintores marinhistas britânicos, passou por aqui três vezes, entre 1942 e 1867, e ficou fascinado. Brierly era desenhista oficial de navios ingleses que tinham como destino a Austrália, então colônia inglesa, que se reabasteciam no Rio,um dos portos mais movimentados do mundo naquela época. Os relatos e desenhos das suas duas primeiras viagens, a bordo das embarcações Wanderer (1841) e Meander (1852) estavam esquecidos na Biblioteca Estadual de Nova Gales do Sul, na Austrália, e permaneceram inéditos, até serem descobertos por Pedro da Cunha e Menezes. Diplomata baseado em Sydney, Pedro realizou um verdadeiro trabalho de ourivesaria para decifrar, traduzir e organizar os manuscritos que compõem os dois primeiros capítulos do livro. Na terceira parte, são reproduzidos trechos do diário do Cruzeiro do H.M.S. Galatea, publicado em Londres, em 1869Em meados do século XIX, dava-se a corrida pela descoberta e colonização da Oceania e Ilha do Pacífico Sul. Inglaterra e França sucediam-se no envio de expedições destinadas a inventariar a fauna e a flora, bem como a mapear e a avaliar a fertilidade dos solos, o estoque de madeira e o potencial econômico geral daqueles cantos do globo", explica Pedro da Cunha e Menezes em sua apresentação do livro. Brierly deu a volta ao mundo duas vezes e foi um dos artistas mais viajados de sua época. Além de conceituado desenhista e pintor, foi um bem sucedido cronista, baleeiro, etnógrafo e historiador. Apaixonado pelo mar, Briely passou grande parte de seu tempo nele, onde dormia, fazia as refeições, trabalhava e desenhava. É pelo mar que o jovem de 24 anos avista pela primeira vez o Rio em 1841. Brierly retratou os contornos da cidade e o movimento das embarcações na Baía de Guanabara, a paisagem e a natureza da Floresta da Tijuca e da Serra dos Órgãos. Em seus diários, abordou também questões diplomáticas entre Brasil e Inglaterra e o tráfico de escravos. Na terceira e última vez que visitou a cidade, em 1867, acompanhando o Príncipe Alfred, Duque de Edimburgo, foi a bailes de gala e jantares oficiais com a presença de D. Pedro II; freqüentou o Paço da Cidade e a Quinta da Boa Vista, e tomou sorvete com a Princesa Isabel e com o Conde d’Eu no palácio que hoje abriga a sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em Laranjeiras.