Provavelmente, o cinismo foi a ramificação mais original e influente da tradição socrática na Antiguidade. No entanto, somente a partir de fins da década de 1930 sua importância literária e filosófica começou a ser reconhecida pelos estudiosos modernos. Atualmente, está sendo levado a sério como um movimento filosófico e cultural de interesse duradouro. O presente trabalho – que participa desse renascimento do interesse por Diógenes e seus seguidores e ilustra o fascínio que os “Cães” continuaram a exercer – investiga a filosofia e a literatura cínicas antigas em todos os seus aspectos e traça as principais linhas de seu impacto sobre a cultura ocidental da Antiguidade clássica até o presente, concentrando-se nos domínios da produção literária e da reflexão ética. Sem dúvida, a figura de Diógenes – com seu bastão, sacola e túnica rota movimentando-se pelas ruas da Atenas do século IV a.C. e ensinando que a felicidade somente pode ser encontrada em uma vida livre e autônoma – pode parecer distante de nós. No entanto, o movimento cínico não só durou quase um milênio na Antiguidade, como também gerou uma notável variedade de formas literárias que sobreviveriam à cultura clássica, estando no centro das preocupações filosóficas de pensadores tão diferentes quanto os humanistas do Renascimento – Wieland, Rousseau, Diderot e Nietzche. A recepção ou legado do cinismo é abordada como um processo cultural longo, descontínuo e centrífugo, e não como uma série de pensadores autônomos engajados numa conversação atemporal.