Tosca Lyrica é fruto de uma síntese de metamorfoses condensadas em verso. Alguns destes versos careceram de algum tempo nas trevas de um caderno fechado para que se percebesse se seriam semente ou esterco. Muitos foram esterco. Estes, porém, e na perspectiva da poetisa, tornaram-se sementes. Poderão ser raízes de outra espécie, ou ramificar-se. Existe um elevado grau de imprevisibilidade na escrita lírica por mais que os poetas afirmem habitar num reino místico de onde se colhem poemas como frutos das árvores, não será bem assim. É difícil encontrar um poema que se possa contemplar, morder, despedaçar. A espera, creio, faz parte integrante do processo de escrita. Não obstante, eu devo ter-me enganado, e duvido que esteja no tal reino místico de que os poetas falavam. No reino onde estou, há aridez sob os pés e pó na atmosfera. Todas as janelas de todas as casas se quebraram, e todas as portas se abandonaram, permanecendo abertas. Cicia o vento. O ar crepita de febre e de fumo. (...)